Certas medidas no Labirinto de Chartres correspondem a
números simbólicos. Na Rosa (ou Rosácea) Central, há medidas equivalentes a 3,
5, 7 e 10 pés. O diâmetro dessa estrutura têm 10 pés. Cada uma das 6 pétalas
tem 3 pés. Um círculo que passe pelo centro das 6 pétalas tem 7 pés. O contorno
do espaço que correspondia à antiga placa de bronze com a figura de Teseu
matando o Minotauro tem aproximadamente 5 pés. Cada um desses números tem seu
simbolismo. O 3 é associado à espiritualidade, ao espírito, ou à Trindade. O 5
corresponde à estrutura corporal do ser humano com a cabeça e os quatro
membros, como um pentagrama ou uma estrela de cinco pontas. O 7 é tradicionalmente
considerado um número místico por corresponder a 3 + 4, ou seja à soma de
espírito ( 3 ) e matéria ( 4 ), correspondendo assim a uma das “totalidades”
(por exemplo o número dos antigos planetas, uma fase da lua, etc.). O número 10
corresponde aos Dez Mandamentos, ou ainda a algumas somas como 3 + 7, ou seja, o Espírito somado ao ser humano, ou a duas
vezes cinco, podendo corresponder ao renascimento, na medida em que dobra o
número do ser humano. Assim como esse outros raciocínios também podem ser
feitos com os outros números em torno de 10. Devemos ressalvar que quando o
labirinto de Chartres foi feito a matemática ocidental ainda não se orientava
pela base 10. O número par dessa estrutura corresponde ao número das pétalas,
seis, já comparadas aos 6 dias da Criação, ou ainda à junção céu e terra como
na Estrela de Davi, já que o Centro pode equivaler ao ponto cósmico de junção
entre céu e terra, ou mundo espiritual e mundo material; o trajeto horizontal
do Labirinto “se verticaliza” com a chegada do caminhante à Rosa Central. O
Labirinto tem 11 círculos concêntricos. Para Santo Agostinho 11 era o número do
penitente, já que “transgredia” os 10 mandamentos. Esse pode ser um caráter da
caminhada, na medida em que pode ser vivenciada como passagem das sombras à luz.
Mas também 11 seriam os círculos concêntricos de antigo conceito do Universo. A
soma total de camadas de ambos os lados do centro perfaz 22, que tem outros
tantos significados que serão oportunamente aqui também relacionados.
segunda-feira, 15 de dezembro de 2014
quarta-feira, 21 de maio de 2014
O Labirinto Marítimo
Os autores John e Odette Ketley-Laporte, em seu livro “Chartres,
o Labirinto decifrado”, escrevem sobre “o labirinto marítimo”. Observam a
semelhança entre os desenhos sobre numerosas peças de moedas cretenses, a
disposição de caminhos delimitados por pedras na região do Mar Báltico e certas
imagens nas rochas a pouca distância do Oceano Atlântico na Europa. Assim,
supondo que esses desenhos possam ter uma origem comum, o que poderia ter sido
comum entre cretenses e suecos, a uma distância de cinco mil quilômetros de
costa, entre três e quatro milênios atrás?
Sabe-se que os dois povos eram navegadores e mercadores. Situada
entre essas duas culturas havia a cultura Celta.
Em torno de 1200 antes de Cristo, iniciou-se a assim chamada
Idade do Ferro; embora já conhecido antes, nesse momento seu uso se propagou.
Vários movimentos ocorreram então entre diversos povos: a lendária Guerra de
Troia, a invasão dos dórios na Grécia, o império hitita desmoronou sob o
assalto de povos que cruzaram o Bósforo, a incursão dos chamados “povos do mar”
no Mediterrâneo principalmente a partir de Creta. Assim, a partir do ano mil
a.C. houve desenvolvimento de comércio marítimo entre o Mediterrâneo e o Norte
da Europa. Tais viagens podem ter tido reflexos em tradições, histórias e
lendas dos povos, como a própria narrativa da Odisseia.
Tais labirintos podem ter simbolizado movimentos do sol e da
lua, tanto em relação a certos momentos do calendário, como nos solstícios, ou
ainda em relação às marés, já que se tratava de povos navegadores. Há também a
suposição de simbolizar duas serpentes enroladas. As figuras de duas serpentes
também estão presentes em diversas tradições e mitologias. O caduceu de Hermes
tinha duas serpentes enroladas, Hércules estrangulou duas serpentes em seu
berço que teriam sido ali postas por Hera para matá-lo, o que poderia ser uma
alusão à resistência da Ática aos dórios. Por outro lado, na Irlanda, em cuja
costa há várias imagens de labirintos, não há serpentes, o que a tradição
atribui a uma intervenção de São Patrício.
Em relação a Chartres, pode-se perguntar qual a correlação
com essas narrativas, já que se trata de uma cidade longe da costa. No entanto,
os vikings chegaram a invadir Chartres. Neste aspecto, questiona-se a respeito
da possibilidade de certo conhecimento dos vikings a respeito da bússola talvez
ter orientado a construção da catedral, em virtude de sua orientação em relação
aos pontos cardeais.
De qualquer forma, o labirinto de Chartres guarda diferenças
em relação aos labirintos dos povos marítimos, pois a disposição de seus
contornos já se dá de outra forma.
Exemplos de labirintos de povos marítimos:
quinta-feira, 3 de abril de 2014
O Labirinto e a Luz
O Labirinto pode ser visto como semelhante aos processos simbólicos de atravessar o mundo subterrâneo, ou atravessar o deserto, ou águas profundas, para depois renascer, recomeçar, renovar-se. O próprio termo "labirinto" é usado como metáfora de estar perdido, estar desnorteado. Ele é visto mais como um "descaminho" do que como um caminho.
O mundo subterrâneo traz a ideia de escuridão, de incerteza de voltar à luz. O deserto em um primeiro momento pode fazer pensar em muito calor e muita luz, mas no deserto também há noite e noite fria. As águas também podem ser de rio, ou de mar, ou de lago, cada uma com suas peculiaridades que podem surpreender a quem as atravessa.
Nesses diversos paralelos, luz e sombra podem ter vários papéis.
Na Catedral de Chartres o equilíbrio entre luz e sombra elabora uma penumbra que cria um clima que paira entre o material e o espiritual. Esse equilíbrio adapta-se ao Labirinto como meio de reflexão e meditação. Mas, de certa forma, a luz predomina sobre as sombras no Labirinto. Todo ano, no dia 22 de Agosto, projeta-se no centro do Labirinto uma imagem de um vitral de Maria, por meio do posicionamento da luz do sol em relação à catedral e ao vitral. Esse dia 22, no tempo da construção da catedral, correspondia ao dia 15 de Agosto quando se celebra a Assunção de Maria.
O labirinto de Chartres também se compõe de símbolos solares e lunares, ambos com luzes características e também simbólicas.
O próprio labirinto em si é uma metáfora de um caminho para a luz. A caminhada no Labirinto faz descobrir que, em vez de significar um "perder-se", ela trata de um "encontrar-se". Assim, o Labirinto traz mais luz para o caminhante, mesmo que a luminosidade do ambiente seja a mesma antes e depois da caminhada. Embora essa luz seja simbólica, muitas vezes existe a impressão de ela até ser mesmo material, quase palpável, já que o corpo como um todo percorre esse trajeto.
sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014
Caminhar no Labirinto pode ser Meditação?
A palavra “meditação” em português e nas línguas ocidentais
existe há séculos com vários sentidos como, por exemplo, reflexão profunda, ou
oração mental, entre outros similares. Santos cristãos praticavam várias formas
de meditação que oscilavam entre os dois sentidos referidos acima. O filósofo René
Descartes escreveu obra intitulada “Meditações sobre Filosofia Primeira”. O
compositor Massenet escreveu o trecho musical chamado “Meditação” que faz parte
da ópera Thais. Quando as formas orientais de Meditação passaram a ser
conhecidas no Ocidente, tiveram seu nome traduzido para “meditação”, porque
deve ser a palavra que mais se aproximava daquela atividade, no entanto, em
suas línguas originais, “meditação” tem outros nomes. Assim, nas línguas
ocidentais, ao falar-se em meditação pode-se estar querendo usar o sentido dado
às formas orientais de meditação, ou os sentidos ocidentais dessa palavra.
Desse modo, a Meditação Caminhando no Labirinto pode ser um meio de rememorar
que o Ocidente faz uso dessa referência há séculos e, assim também, pode ajudar
a recuperar uma forma ocidental de interiorização que tem sido desprezada nos
tempos atuais, em que se dá pouco valor à subjetividade. Essa pode ser uma
forma ocidental de meditar, usando uma forte e profunda imagem arquetípica
ocidental que é o Labirinto e em especial o Labirinto de Chartres e suas
variações.
Há quem possa considerar que, como a Caminhada no Labirinto
faz uso de música, ou eventualmente de incenso, o efeito da Caminhada se deva
mais a esses fatores. Essa pode ser uma pergunta interessante para ser feita a
alguém especializado em Musicoterapia. Mas, de qualquer modo, sabemos que as
pessoas, de modo geral, podem ser beneficiar de coisas que provoquem sensações
de bem estar que não necessariamente precisam estar devidamente catalogadas
como “tratamentos oficiais”. As pessoas não precisam pensar nisso ao decidirem
ouvir música que faça relaxar e pensar em coisas boas. A Meditação Caminhando
no Labirinto faz uso de todos esses estímulos, que se harmonizam. Há pessoas
que fazem o trajeto do labirinto dançando. Outros fazem pausas estimuladas pela
música. Isso pode ser bastante positivo para quem harmonize a caminhada com a
música. Tudo isso concorre para uma jornada interior que abre janelas e portas
do inconsciente para benefício do indivíduo que caminha.
terça-feira, 11 de fevereiro de 2014
Os Labirintos Lendários da Antiguidade Clássica
No livro "Chartres – le labyrinthe
déchiffré", de John e Odette Ketley-Laporte, o primeiro capítulo trata dos
labirintos lendários da Antiguidade Clássica.
Os autores referem que indiscutivelmente o homem
pré-histórico utilizava cavernas como habitação. Além disso, também parece
certo que reservava outras para uso que não tinha relação com as necessidades
imediatas. Assim, aquelas usadas para ritos funerários podem ter conduzido a
outras práticas e cerimoniais de certo caráter secreto. Por sua vez, as
cavernas interconectadas podiam oferecer vantagens de proteção, bem como de
materializar noções de progressão e interconexão. Nesse sentido, os lugares
sagrados das diversas civilizações compreendem espaços artificiais
interligados. Então, uma primeira versão artificial das cavernas pode ter sido
o primeiro labirinto que se tem notícia, conforme Heródoto. O faraó Amenemés
III (1860-1815 a. C.), da XII dinastia, fez construir em Haouara, na depressão
de Fayoum, perto do lago Moeris (atual Birket-Karoun), um palácio monumental de
três mil salas e corredores em vários níveis. Alguns autores da antiguidade
fizeram a suposição de que esse palácio teria inspirado o arquiteto ateniense
Dédalo para construir o Labirinto de Creta, a pedido do rei Minos, para servir
de prisão ao Minotauro.