quinta-feira, 23 de junho de 2011

Conhecimento, Sabedoria, Labirinto, Chartres

O local da Catedral de Chartres, além de ter sido sede de várias e sucessivas igrejas, também foi lugar de uma importante escola desde o quinto século depois de Cristo. Com o passar do tempo, na medida em que foram fundadas as universidades de Montpellier e de Paris, estas cidades ganharam mais importância como centros de conhecimento na França. Esta última especialmente, como é notoriamente sabido, passou a brilhar também em diversos outros aspectos. 
Se formos remontar ao início da Escola de Chartres, veremos que ela se inicia em torno do período correspondente ao fim do Império Romano do Ocidente, ou seja, no período que medeia entre o fim da Idade Antiga e o início da Idade Média. Nesse sentido, chama a atenção a existência desse centro de ensino, em um momento em que usualmente se pensa que tivesse desaparecido o Conhecimento no Ocidente. É importante frisar-se esse dado, pois ainda se tem a impressão de que a Idade Média era um tempo apenas de obscuridades, ignorância e guerras. Essa foi uma imagem deixada por renascentistas e mais ainda por iluministas e pós-iluministas, que alegavam ter a luz da razão e projetavam no passado uma parte de suas próprias sombras. 
Assim, vemos que algo contemporânea ao Vivarium, escola fundada pelo sábio romano Cassiodoro, a Escola de Chartres era uma espécie de "pré-universidade", uma das precursoras da atribuição do nome "cátedra" às áreas de estudo, a partir da atribuição desse nome ao local de assento do chefe dessas escolas, nome esse que também acabou conduzindo à palavra "catedral" para as igrejas ligadas a essas escolas. Consta que a Escola de Chartres era um local onde se ensinava as artes liberais, ou seja o Trivium e o Quadrivium. O Trivium era composto por Gramática, Retórica e Dialética e o Quadrivium correspondia a Aritmética, Música, Astronomia e Geometria. Essa divisão seguia antigas simbologias numéricas, onde tem-se o número três, símbolo do espírito, relacionado a áreas de conhecimento mais abstrato e o número quatro, símbolo da matéria, correspondente a áreas mais relacionadas a atividades de utilidade concreta no dia a dia (embora todo o simbolismo inerente a essas áreas). Além disso, a referências de ensino de Teologia, Direito e Medicina também nessa Escola, áreas essas que depois viriam a dominar o ambiente das Universidades.
Tais conhecimentos estiveram presentes quando da construção da Catedral e do Labirinto de Chartres. Conforme o entendimento do estudioso australiano John James, a respeito da planta da Catedral, ele considerou a possibilidade de três quadrados terem configurado a obra a partir do solo (portanto usando-se os números 3 e 4). Assim, há um quadrado maior no centro e outros dois quadrados menores nas extremidades. Esses três quadrados se tocam por seus ângulos. O encontro do quadrado menor com o maior, do lado ocidental, ocorre exatamente no centro do labirinto. O encontro do outro quadrado menor com o maior do lado oriental se dá exatamente no centro do altar principal. 
Também do centro do labirinto à entrada da Catedral há 31,75 metros e do solo até o centro da rosácea oeste, que fica sobre essa entrada, há a mesma distância. Assim, questiona-se se o labirinto poderia ter sido um local a partir do qual todo o projeto teria se desenvolvido (guardando-se a ressalva de que parte do pórtico oeste já existia).

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