terça-feira, 28 de junho de 2011

Geometria Sagrada da Catedral de Chartres - Parte 3

Quando citamos diversos números presentes na Catedral de Chartres não estamos apenas falando aleatoriamente. Os construtores da catedral eram bastante influenciados pela ciência de Pitágoras. Este filósofo fazia uma leitura do Universo através dos números. Podemos dizer que esta ferramenta continua sendo fundamental para a Ciência, evidentemente que aplicada com toda a metodologia atual. Sabemos o quanto a Matemática é importante em todos os campos. 
No conhecimento pitagórico legado aos estudiosos do Quadrivium, os números e suas relações são símbolos dos mais variados aspectos concretos e abstratos.
Continuando a reflexão sobre a "Rosácea-Labirinto", ou seja,  a Rosácea-Oeste de Chartres, observamos que em sua figura central há a imagem de Cristo dentro de um contorno de 4 pétalas. Em torno dessa figura há 12 lunações.
Vemos que, enquanto o Labirinto tem na sua rosa central um simbolismo referente a Maria, mediadora, a Mãe, a Terra, na figura do centro da Rosácea há a presença de Cristo, o Filho, o Céu.
Por outro lado, Cristo envolto por 4 pétalas indica sua presença na materialidade própria desse número (4 pontos cardeais, 4 elementos, etc.), correlacionando-o ao Labirinto que está no solo e, portanto, à Mãe-Terra.
A imagem central da rosácea, rodeada por 12 lunações, implica no "4 material" das pétalas do centro multiplicado pelo "3 espiritual", ou seja implica em uma espiritualização da matéria.
O 12 do contorno menos o 4 de dentro resulta no 8, já citado como um símbolo agostiniano de completude.
Aliás, veja-se que a arquitetura de influência agostiniana trabalha com a forma octogonal.
O número 6 das pétalas do centro do labirinto multiplicado por 2  (a Terra-Mãe multiplicadora de vida)  resulta no 12 presente nos vários círculos da Rosácea. 

sábado, 25 de junho de 2011

Geometria Sagrada da Catedral de Chartres - Parte 2

Ao lado podemos observar a fachada oeste da Catedral de Chartres correspondente à sua entrada principal, também conhecida como Porta Real ou Portal Real. Acima da porta propriamente dita (ou portas) há 3 vitrais. Acima desses 3 vitrais há a Rosácea Oeste. Essa é a Rosácea que corresponde ao Labirinto como uma espécie de projeção do mesmo, ou vice-versa. Assim, de certa forma, à observação frontal externa da catedral, uma primeira visão que marca presença é a imagem "mandálica" desse grande vitral circular.
Outro item que também chama a atenção é a assimetria das torres. Essa assimetria pode parecer algo estranho ou mesmo bizarro aos olhos de artistas posteriores ao período gótico. É certo que há uma distância no tempo entre a construção final de uma e de outra torre, o que poderia servir de explicação suficiente para tal coisa. 
Mas, se Chartres é um retrato arquitetônico do Universo, também podemos ler essa diferença de outra forma.
Em Física, uma das hipóteses para o início e o desdobramento sucessivo do Universo implica no conceito de "assimetria". De certo modo, alguma "assimetria" entre as partículas subatômicas estaria associada ao processo desencadeador do Big Bang. A presença do vórtice (vortex) ou espiral nos mais diversos fenômenos naturais carrega certa assimetria na qual parece haver o número áureo (número phi) de valor aproximado 1,6.
E se o ser humano é um microcosmo miniatura do macrocosmo, há também a assimetria do próprio corpo humano. Ambos os lados do ser humano certamente são assimétricos, seja em relação aos mais diversos órgãos, quanto no que diz respeito ao próprio cérebro. 
Abaixo vemos mais de perto a "Rosácea-Labirinto" Oeste. Cada círculo externo contém 8 lunações similares às lunações que contornam o labirinto. O círculo central, que corresponde à rosa central do labirinto, contém outras 12 lunações. Há um jogo entre os números 8 e 12: 12 círculos externos com 8 lunações em cada um. Entre o 8 e o 12 há o 4 que simboliza a materialidade, o mundo material. Conforme Santo Agostinho, o número 8 é uma espécie de completude do número sagrado 7, a partir da Ressurreição de Cristo que ocorreu no primeiro dia da semana, tornando-o também o último dia. Assim, o círculo perfeito corresponderia ao octógono, ou uma roda de oito partes (similar à roda do Budismo). A soma de todas as lunações da Rosácea Oeste dá 108, ou seja 6 lunações a menos do que as que há no labirinto. A diferença de 6 está presente no número de pétalas do centro do labirinto. Corresponde aos 6 dias de criação (conforme Artress), também às 6 pontas da estrela de Davi, cujos dois triângulos simbolizam o céu e a terra.

quinta-feira, 23 de junho de 2011

Conhecimento, Sabedoria, Labirinto, Chartres

O local da Catedral de Chartres, além de ter sido sede de várias e sucessivas igrejas, também foi lugar de uma importante escola desde o quinto século depois de Cristo. Com o passar do tempo, na medida em que foram fundadas as universidades de Montpellier e de Paris, estas cidades ganharam mais importância como centros de conhecimento na França. Esta última especialmente, como é notoriamente sabido, passou a brilhar também em diversos outros aspectos. 
Se formos remontar ao início da Escola de Chartres, veremos que ela se inicia em torno do período correspondente ao fim do Império Romano do Ocidente, ou seja, no período que medeia entre o fim da Idade Antiga e o início da Idade Média. Nesse sentido, chama a atenção a existência desse centro de ensino, em um momento em que usualmente se pensa que tivesse desaparecido o Conhecimento no Ocidente. É importante frisar-se esse dado, pois ainda se tem a impressão de que a Idade Média era um tempo apenas de obscuridades, ignorância e guerras. Essa foi uma imagem deixada por renascentistas e mais ainda por iluministas e pós-iluministas, que alegavam ter a luz da razão e projetavam no passado uma parte de suas próprias sombras. 
Assim, vemos que algo contemporânea ao Vivarium, escola fundada pelo sábio romano Cassiodoro, a Escola de Chartres era uma espécie de "pré-universidade", uma das precursoras da atribuição do nome "cátedra" às áreas de estudo, a partir da atribuição desse nome ao local de assento do chefe dessas escolas, nome esse que também acabou conduzindo à palavra "catedral" para as igrejas ligadas a essas escolas. Consta que a Escola de Chartres era um local onde se ensinava as artes liberais, ou seja o Trivium e o Quadrivium. O Trivium era composto por Gramática, Retórica e Dialética e o Quadrivium correspondia a Aritmética, Música, Astronomia e Geometria. Essa divisão seguia antigas simbologias numéricas, onde tem-se o número três, símbolo do espírito, relacionado a áreas de conhecimento mais abstrato e o número quatro, símbolo da matéria, correspondente a áreas mais relacionadas a atividades de utilidade concreta no dia a dia (embora todo o simbolismo inerente a essas áreas). Além disso, a referências de ensino de Teologia, Direito e Medicina também nessa Escola, áreas essas que depois viriam a dominar o ambiente das Universidades.
Tais conhecimentos estiveram presentes quando da construção da Catedral e do Labirinto de Chartres. Conforme o entendimento do estudioso australiano John James, a respeito da planta da Catedral, ele considerou a possibilidade de três quadrados terem configurado a obra a partir do solo (portanto usando-se os números 3 e 4). Assim, há um quadrado maior no centro e outros dois quadrados menores nas extremidades. Esses três quadrados se tocam por seus ângulos. O encontro do quadrado menor com o maior, do lado ocidental, ocorre exatamente no centro do labirinto. O encontro do outro quadrado menor com o maior do lado oriental se dá exatamente no centro do altar principal. 
Também do centro do labirinto à entrada da Catedral há 31,75 metros e do solo até o centro da rosácea oeste, que fica sobre essa entrada, há a mesma distância. Assim, questiona-se se o labirinto poderia ter sido um local a partir do qual todo o projeto teria se desenvolvido (guardando-se a ressalva de que parte do pórtico oeste já existia).

terça-feira, 21 de junho de 2011

O Labirinto, A Rosácea e os Vitrais em Chartres - Parte 3

Abaixo da Rosácea Oeste, a qual de relaciona geometricamente com o Labirinto, há três vitrais: um maior ao centro e outros dois laterais um pouco menores. O vitral do lado direito é conhecido como "A árvore de Jessé", ou seja, correspondente aos descendentes de Jessé, o pai do rei Davi. O do lado esquerdo corresponde a "Transfiguração, Paixão e Ressurreição de Jesus". O central corresponde a "Infância de Jesus". No alto deste vitral central, há uma figura da Virgem com a Criança ao colo. No dia 22 de agosto essa imagem é projetada pela luz do sol no centro do Labirinto. Deve-se considerar que a data de 22 de agosto atual corresponde a 15 de agosto, quando da construção da Catedral, pois a Reforma do Calendário Gregoriano entraria apenas séculos depois. O dia 15 de Agosto é dedicado à Assunção de Maria. Assim, há uma harmonização entre a iluminação dessa parte do vitral nessa data e o simbolismo do centro do Labirinto. Esse centro, que contém as pétalas de rosa, em cujos encontros há discretas flores de lis, em sentido invertido em relação ao arco das pétalas. Esse conjunto tem forte correlação com Maria e seu papel mediador, bem como com o símbolo do feminino também nesse papel mediador, em correlação a figuras como Ariadne em sua função de entregar o fio condutor a Teseu que tinha a tarefa de matar o Minotauro no centro do Labirinto.
Todo esse concerto geométrico de luz pode ser reforçado pela menção de Louis Charpentier em seu livro "Les mystères de la cathédrale de Chartres", quando se refere a uma sinalização em uma determinada pedra do chão do Transepto Sul da Catedral, que é iluminada em 21 de junho (a data de hoje), solstício de verão no hemisfério norte, por um raio de luz que atravessa o vitral de Santo Apolinário, o primeiro da parede oeste desse transepto. Acentua Charpentier que isso é obra de um astrônomo, de um geometra, que queria assinalar esse momento cósmico do tempo na construção. Notamos que Apolinário é um nome correlato a Apolo, deus da luz na mitologia greco-romana. 
Assim, nota-se que os vitrais, além de serem obras por si só muito trabalhosas, ainda tinham o acréscimo de estarem em harmônica correlação cósmica com as mudanças do tempo no calendário sazonal e de marcos religiosos e simbólicos. Entre essas correlações situa-se o Labirinto. 

sábado, 18 de junho de 2011

O Labirinto, a Rosácea e os Vitrais em Chartres - Parte 2

A Rosácea tem esse nome por lembrar as pétalas de uma rosa, mas também porque a flor rosa também simbolizava, na Idade Média, uma ligação com o mundo espiritual. O padrão maior da Rosácea se repete em suas partes menores, também mimetizando a rosa. A rosa, formada por pétalas em espiral, evoca um movimento dessas partes em torno do centro, configurando formações tais como os arquétipos (de Jung) em torno do self. Assim, a rosa simboliza um todo com suas partes articuladas entre si. A rosa de cor vermelha pode indicar sacrifício, enquanto a rosa branca pode indicar pureza. Assim, a rosa cor-de-rosa compõe uma mistura entre ambas. 
A reprodução do padrão da flor rosa está presente tanto no labirinto, quanto na Rosácea oeste. No centro do Labirinto há uma rosa com seis pétalas e um espaço equivalente a meia pétala. A Rosácea oeste apresenta padrões de 12 pétalas. Além disso, a Rosácea apresenta três conjuntos circulares de 12 imagens.
Vê-se assim que, enquanto o Labirinto apresenta 11 círculos concêntricos, a Rosácea apresenta esse padrão já referido ligado ao número 12.
O número 11 pode corresponder à visão de Universo então vigente, com sete planetas e mais outros quatro círculos. Como número com dois algarismos iguais, tal como 22 ou 33, pode representar um estágio intermediário entre o mundo material e o mundo espiritual.
Na "Rosácea-Labirinto" (por ser do mesmo tamanho do labirinto e estar disposta em ângulo reto em relação ao mesmo) o número 11 passa a 12, indicando um grupo completo, um programa completo, com 12 componentes. Assim, o número intermediário 11 acrescido de 1(número da totalidade) passa desse estágio para um outro nível mais elevado. No entanto, tal qual uma partícula subatômica instável, esse 12 não fica em situação estática, mas com a rosa central, que tem a imagem de Cristo, torna-se 13. Isso vale para as três camadas de 12, pois todas giram em torno da imagem central. Aliás, essa imagem central também tem doze pétalas. 
No centro do Labirinto, a rosa central tem seis pétalas, mais metade (correspondente à entrada-saída desse local). Assim, esse 6 já indica uma espécie de presença do 12 dentro do Labirinto do 11 (tal qual a presença de yin e yang mutuamente na imagem circular dessas categorias). No entanto, esse 6 também tem sua "instabilidade", já que as pétalas não estão totalmente fechadas entre si; sua abertura aponta para um 13, se multiplicada por 2 essa figura.
Assim, sendo o Labirinto do chão a mandala telúrica, a Rosácea-Labirinto elevada pode ser a mandala celeste.

quinta-feira, 16 de junho de 2011

O Labirinto, a Rosácea e os Vitrais em Chartres

Como já dissemos anteriormente, o Labirinto tem a mesma dimensão da Rosácea na Catedral de Chartres.
Em sendo assim, a Rosácea também é um Labirinto, um caminho de luzes e de cores. 
Entramos aí no território dos Vitrais. Os Vitrais que, nessa Catedral, em sua maioria, são os mesmos de séculos atrás. A arte de seus desenhos encerra diversas dimensões nos mesmos pedaços de vidro dispostos engenhosamente. Se vistos de longe, delineiam determinadas figuras que são vislumbradas no todo da mesma janela. Se vistos de perto, surgem imagens antes invisíveis, nuvens se tornam anjos, detalhes fornecem a visão de um outro nível de realidade. Tal qual o microscópio revela células de seres vivos que são invisíveis ao olho nu, o binóculo ou a luneta evidenciam "células espirituais" nos vidros e, assim, substituem uma escada ou um andaime impossíveis de acesso ao peregrino comum. 
Uma é a visão direta dos desenhos feitos nos vitrais, outra é a visão indireta, quando se dirige o olhar às luzes que atravessaram as janelas e se projetam no espaço interno da Catedral. Nesse espaço há uma outra Catedral além daquela de pedra: há uma Catedral de Luzes.
Catedral dentro de Catedral, então esta é uma outra Barca de Pedro. A nave central da Igreja, convés do navio gótico invertido, deve conduzir os seres humanos com segurança a seu destino espiritual.
A nave de luzes como que dota de energia a nave de Pedro e traz essa energia à matéria da pedra.
A Rosácea, entre os vitrais, tem particularidades que a tornam um "labirinto de luzes". 
Em Chartres há três Rosáceas, denominadas conforme os pontos cardeais a elas relacionados: Norte, Sul, Oeste. A que se correlaciona com o Labirinto fica a Oeste. As três têm uma disposição de quadros menores, todos de alguma relacionados a círculos. Estão dispostos em três círculos concêntricos, cada qual formado por 12 imagens. Há um círculo central. A soma total de imagens corresponde ao número primo 37, que poderia corresponder à idade real de Cristo, se levar-se em consideração o erro de cálculo do calendário por Dionísio, de modo que o rei Herodes morreu em torno de quatro anos antes de Cristo. Como Cristo provavelmente morreu no ano 30, somando-se alguns anos antes de Herodes (pelo tempo que ele teria percebido que os magos não voltavam para lhe falar da descoberta do Novo Rei), pode ser aproximadamente 37.  
Posteriormente continuaremos esta reflexão.

segunda-feira, 13 de junho de 2011

Símbolos no Labirinto de Chartres - Parte 3

O estudioso Rudiger Dahlke faz especial referência ao Labirinto de Chartres e às Rosáceas das catedrais góticas em seu livro sobre Mandalas, comentando sobre a importância simbólica dessas imagens "mandálicas" para a cultura ocidental. O Labirinto tem especial correlação com as Rosáceas, principalmente a assim chamada Rosácea Oeste.
Antes devemos atentar para a grandiosidade e os significados das Rosáseas. Ao chegar-se ao lado do Labirinto de Chartres, algo que chama a atenção é o seu tamanho de quase treze metros de diâmetro. Sua disposição em equilíbrio com a catedral, sua força no desenho do mármore inserido no chão de pedra. Ao se saber que as Rosáceas têm o mesmo tamanho do Labirinto e estão dispostas no alto, têm-se grande espanto ao imaginar o minucioso e, ao mesmo tempo, grandioso trabalho de execução dessas estruturas circulares dispostas nas paredes.
A Rosácea Oeste tem uma disposição simétrica em relação ao Labirinto, ou seja, a distância do chão à Rosácea é a mesma (desse mesmo chão) até o Labirinto. Assim, ambas as imagens formam como que parte dos dois lados iguais do ângulo reto de um triângulo isósceles. Tal figura faz lembrar do Teorema de Pitágoras, personagem que sempre reaparece nos estudos sobre essa catedral.
Pode-se pensar se é a Rosácea que se projeta no Labirinto ou este que se projeta naquela. No primeiro caso, pode-se pensar na luz do sol "transfigurada" pelos vitrais da Rosácea como que trazendo do céu à terra sua energia. No sentido inverso, tem-se a elevação da imagem terrena, horizontal, do labirinto à posição verticalizada de busca do alto.
Ambas as situações podem servir a reflexões sobre essas diversas simbologias e a sabedoria dos que foram capazes de elaborar tão singular construção.

sexta-feira, 10 de junho de 2011

Símbolos no Labirinto de Chartres - Parte 2

Os Labirintos podem ter sua entrada do lado direito ou do lado esquerdo, em relação ao posicionamento do indivíduo que vai caminhar por ele. A entrada do Labirinto de Chartres fica do lado esquerdo. Tal constatação pode levar a pensar em associações com outras obras de arte que fazem uso de alguma assimetria em relação a ambos os lados. Assim, podemos observar, por exemplo, que grande parte das esculturas egípcias antigas, que representam seres humanos caminhando, apresentam o pé esquerdo à frente.
Pode-se questionar o que isso poderia significar. Talvez possa ser aventado que, diferentemente dos dias de hoje, a maioria dos egípcios teria sido de canhotos. Ainda outra suposição poderia ser de que os egípcios tinham noção da assimetria cerebral em relação às funções dos hemisférios cerebrais: o hemisfério cerebral esquerdo com predominância para o pensamento lógico, racional (comandando o lado direito do corpo) e o hemisfério cerebral direito com predominância para noções holísticas, de correlações espaciais, intuitivas (comandando o lado esquerdo do corpo). 
Devemos lembrar que, no processo de mumificação, os egípcios jogavam fora o cérebro, enquanto preservavam outros órgãos. Sabe-se também que eles faziam observações clínicas a respeito de certas correlações entre sinais clínicos e lesões no organismo. Seja qual for a origem da assimetria das estátuas, trata-se de um fato intrigante.
Ainda outra correlação pode ser feita em torno de hipóteses sobre um época entre o início do Período Neolítico da Pré-História (aproximadamente a partir de 10 mil anos antes de Cristo) e o período histórico (aproximadamente 4 mil anos antes de Cristo), a qual teria sido uma época "matriarcal", com a predominância do feminino sobre o masculino. Nesse período, supostamente o hemisfério direito seria predominante em relação ao esquerdo de modo geral, ou seja, o lado esquerdo do corpo sobre o lado direito. Assim, haveria a predominância de pensamento holístico, espacial, sobre o pensamento analítico, lógico. Dentro desse tipo de argumentação, a passagem da escrita por figuras ou ideogramas para escrita por letras simbólicas como no alfabeto moderno, corresponderia à passagem de predominância do hemisfério direito para o hemisfério esquerdo e, assim, da passagem de um período matriarcal, para um período patriarcal (essa passagem é variável no tempo, de povo para povo).
Ainda outra correlação similar pode ser observada nas duas formas de alfabeto japonês. Existe o alfabeto canji, correspondente a figuras ideogramáticas e correlacionado ao hemisfério direito do cérebro, e o alfabeto caná, correspondente a letras com simbolismo semelhante ao alfabeto latino (ou seja não são figuras "desenhadas" como nos ideogramas).
O Labirinto de Chartres guarda uma série de correlações com o feminino, o que pode também reforçar a entrada pelo lado esquerdo.
Com todas essas reflexões, talvez possamos dizer que, ao iniciar pelo lado esquerdo, o Labirinto de Chartres ativa a visão e o corpo pelo hemisfério cerebral direito, mais correlacionado com um raciocínio intuitivo, holístico, espacial. No nosso dia a dia racional,  usamos mais o hemisfério cerebral esquerdo. Essa pode ser uma das razões de a caminhada no Labirinto surpreender o caminhante, ao despertar "partes adormecidas" da mente.

terça-feira, 7 de junho de 2011

Símbolos no Labirinto de Chartres - Parte 1

Símbolos em diversas tradições foram estudados por pesquisadores como Carl Gustav Jung, Mircea Eliade, Karl Kereny, Joseph Campbell e outros. Esses estudos indicaram o valor de símbolos nos contextos psicológico, antropológico, cultural, social. Assim, ao nos referirmos a símbolos presentes no Labirinto da Catedral de Chartres, devemos considerar esses diversos aspectos em relação àqueles que produziram essa obra. Portanto, tais sinais compõem uma expressão da cultura do período histórico entre os séculos XII e XIII na parte da Europa em que o estilo gótico floresceu. Além disso, tal simbologia também expressa parte da Cultura Ocidental e se remete a conotações universais inerentes ao ser humano. 
Aqui nos atemos ao Labirinto, mas devemos frisar que outros tantos produtos da criatividade humana também têm essas propriedades.
Parte da simbologia do Labirinto já está presente no mistério de sua criação. Ele é de uma época em que grande parte de obras artísticas não tinha uma assinatura, um autor personalizado; eram produções anônimas. Esse era um período em que o Canto Gregoriano, em uníssono, monotônico, também anônimo, expressava um coletivo, um corpo de fé, uma única voz múltipla que subia entre as colunas das catedrais. Assim, desconhecemos a autoria da construção do Labirinto de Chartres. 
Outro traço misterioso em relação à elaboração desse Labirinto diz respeito à suposição de ter sido feito pelos Cavaleiros Templários. Essa ordem de cavalaria acabou assumindo um espaço mítico na Cultura Ocidental, além de ter seu nome emprestado a toda e qualquer obra de ficção. Usamos aqui o termo "mítico" no sentido em que os referidos estudiosos de símbolos o usavam como relativo a uma série de fatores com densidade antropológica componentes de mitos próprios dos mais diversos povos. Os Templários correspondiam a uma ordem criada para proteger os peregrinos que se dirigiam a Jerusalém. Sua permanência no Oriente Médio e suas andanças fizeram com que tivessem contato com outras culturas e tradições e, desse modo, adquirissem mais conhecimentos e até mesmo adotassem outros costumes.
Diversos feitos medievais no Ocidente com características misteriosas, ou de difícil explicação, ou ainda cheios de simbologia, têm sido atribuídos aos Templários. Assim também o Labirinto de Chartres também tem sido chamado de Labirinto dos Templários.   

sexta-feira, 3 de junho de 2011

Labirintos na Grécia Antiga

Quando se fala em labirintos na Grécia Antiga certamente a primeira coisa que vem à mente é o Labirinto de Creta referente ao Minotauro. Mas há também outro labirinto, talvez um pouco menos mitológico, mas também interessante.
No Epidauro havia um templo dedicado a Asclépio que continha um labirinto. Asclépio era o deus da Medicina para os Gregos (entre os Romanos seu nome tornou-se Esculápio). Era filho de Apolo, deus com diversas características além do sol, com o que é mais conhecido. Apolo também estava ligado à Medicina. Ele teria tirado seu filho Asclépio do ventre de sua mãe enquanto esta já estava morta sobre a pira funerária. Assim, simbolicamente Asclépio teria nascido da morte. 
Supostamente Asclépio talvez tivesse sido um antigo médico com forte presença em sua comunidade, de modo que teria sido divinizado após sua morte. Ele também é tido muitas vezes mais como um herói do que como um deus. Entre os Gregos o herói era alguém mais próximo dos seres humanos. O herói grego era, em geral, uma figura que teria se sacrificado em prol dos humanos. Asclépio morreu fulminado por Zeus por ter ousado ressuscitar um ser humano. 
No Templo de Asclépio do Epidauro, havia algumas atividades que faziam parte de uma variedade de rituais a serem praticados pelos doentes que para lá se dirigiam. Uma dessas atividades era o teatro, onde, conforme Aristóteles, ocorria a "catarse", que correspondia à vivência emocional dos espectadores do teatro. 
Essa palavra passou daí para a Psicologia, correspondendo ao seu sentido atual equivalente a uma espécie de alívio das tensões, resolução de tensões. 
De modo semelhante ao teatro, havia também um labirinto, que deveria ser percorrido pelos doentes, talvez também com algum sentido catártico. 
Após um dia com várias dessas práticas ritualísticas, os doentes deveriam dormir no ambiente das construções do templo. Durante o sono, Asclépio indicava aos doentes qual a conduta a ser tomada para tratar sua moléstia. 
Desse modo, vê-se que o Labirinto nesse lugar tinha uma função terapêutica e ritualística concomitantemente.