quinta-feira, 18 de junho de 2015

Perceber o Espaço no Labirinto


Ao entrar no Labirinto, ao iniciar a caminhada, ocorre uma nova percepção do espaço, se o caminhante deixar-se levar pelo trajeto. Como os sapatos ficaram do lado de fora, os pés como guias do corpo estão soltos sobre o caminho. Os pés podem então levar a uma nova propriocepção sobre o espaço intermediário entre o corpo e o chão. Dando um passo após o outro, aa leitura dessa diferente propriocepção ajuda a construir uma nova noção de espaço.
Também os outros sentidos ajudam a construir esse novo espaço. A visão do formato do labirinto, suas voltas, seus símbolos, suas cores, podem trazer o espaço do cotidiano para dentro de um novo espaço simbólico, onde os passos vacilantes do dia a dia tornam-se passos certos conduzidos pelo caminho, mesmo sendo um caminho labiríntico. Aliás, justamente por ser um caminho labiríntico é que a elaboração de um novo espaço pode ser feita.

O espaço central com as seis pétalas é uma etapa diferente nessa configuração de um novo espaço. Nesse espaço de parada, o trajeto parece se verticalizar na projeção de cada pétala que guarda certa relação geométrica com a noção circular. A distribuição das pétalas é uma linguagem geométrica que pode compor uma simbologia que acompanhe a lateralidade, ou os pontos cardeais, ou ainda a circularidade dos seis pontos em sentido consecutivo de um a seis. Eventualmente usa-se a sequência dos seis dias da criação, ou podendo acompanhar seis etapas dos reinos: mineral, vegetal, animal, humano, mental, espiritual. Alguém pode dizer que tudo isso se trata de imaginação. Mas imaginação e fantasia também são importantes para haver outras percepções do Real. O imaginário faz parte do ser humano e esse processo pode contribuir para a criatividade. Essa criatividade pode ser essencial para encontrar novos caminhos na vida, ou no trabalho. 

Referência bibliográfica:
Artress, L. - The Sacred Path Companion - A Guide to Walking the Labyrinth to Heal and Transform. Riverhead Books, New York, 2006. 

sexta-feira, 27 de março de 2015

Silenciando a mente no Labirinto

A mente pode aquietar-se de várias formas.
O labirinto pode canalizar a energia caótica e ansiosa, que é o núcleo da “mente estática” que se vivencia quando se tenta silenciar a mente. Quando o estresse aumenta, aumenta também a energia mental caótica que dificulta a concentração.
Em estudos científicos sobre meditação, duas formas têm sido identificadas para gerenciar essa mente estática. A primeira é a concentração. O objetivo dos métodos de concentração é fazer a pessoa deixar de se identificar com seus próprios pensamentos. Os pensamentos podem diminuir, mas não cessam por completo. Algumas práticas podem ajudar a lidar com esses pensamentos. Os pensamentos podem ser como um rio fluindo na mente, podendo ser uma experiência agradável. Mas eventualmente se agarra um desses pensamentos e fica-se preso a ele. Aprender a se desligar disso pode ser uma forma de entrar no espaço do silencio interior.
Às vezes, frases repetidas, palavras sagradas, como os mantras, podem ajudar na concentração. Uma frase positiva repetida pode conter e focar a energia. Quando os pensamentos voltarem à mente, pode-se repetir a frase. Uma forma de fazer algo semelhante a isso no labirinto pode ser praticado, repetindo-se a frase na primeira etapa do labirinto e silenciá-la ao se entrar no centro.
Outra forma é aquietar a mente através da atenção e conscientização. Esse método convida a prestar atenção nos pensamentos. Não na mente superficial “faladora”, mas nos pensamentos profundos que fluem no labirinto. Esses métodos podem incluir: visualização, imaginação ativa, técnicas de foco.  

Fonte bibliográfica: 
Artress, Lauren - The Sacred Path Companion - A Guide to Walking the Labyrinth to Heal and Transform. Riverhead Books, New York, 2006. 

sábado, 21 de fevereiro de 2015

A Jornada do Herói e o Labirinto


A figura mítica do herói tem importante papel no amadurecimento das pessoas nas diversas culturas e tradições em geral. Comumente o herói não é alguém que “nasce pronto”, mesmo que tenha sido predestinado a isso. O próprio herói necessita de todo um processo de amadurecimento, até atingir um estado que acaba colocando-o um pouco acima dos seres humanos, mas abaixo dos deuses. Esse processo também pode ser chamado de a “Jornada do Herói”, por sua similaridade, no sentido literal ou simbólico, com algo similar a uma longa e tortuosa viagem.
Na Mitologia Grega, é bastante famosa a jornada do herói Teseu para livrar o povo ateniense do domínio do Minotauro, tendo que adentrar o labirinto onde vive esse ser.
É conhecida a analogia dessa trajetória de Teseu com as caminhadas em labirintos que se fazem hoje em dia.
Mas, além da jornada de Teseu, há as jornadas de outros tantos heróis da Mitologia. Muitas vezes essa jornada implica na necessidade do herói atravessar algum lugar sombrio, frequentemente o assim chamado “mundo subterrâneo”, que eventualmente pode equivaler ao mundo dos mortos, ou a uma outra dimensão, um espaço algo fora do mundo dos mortais, etc. Pode-se observar isso, por exemplo, na jornada de Ulisses (ou Odisseu), na Odisseia, quando ele tem que passar pelo obscuro mundo dos mortos.
Dante Alighieri, na Divina Comédia, também descreve uma trajetória inicial parecida, através da obscuridade, até que possa atingir o Céu.
Assim como esses há outros tantos exemplos.
A “Jornada do Herói” pode ser mais uma forma de ser feito o exercício da Meditação Caminhando no Labirinto, ou ainda de compreendê-lo. É uma forma simbólica de fazer esse trajeto interiormente, sendo que as idas e vindas do caminho podem mimetizar o processo de aperfeiçoamento ou depuração pelo qual o herói passa, até que possa atingir sua meta, ou seu destino. 

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015

Labirintos franceses na Idade Média


No fim do século XII, as catedrais de Auxerre e de Sens foram as primeiras na França a terem labirinto. Infelizmente, o de Auxerre foi destruído em 1690 e o de Sens em 1768. Felizmente, certos textos e descrições permitem supor que os dois monumentos eram semelhantes e compostos de onze círculos concêntricos, cujos contornos eram sulcados no pavimento e preenchidos com chumbo. Em um diâmetro de aproximadamente 10 metros, esses dois labirintos foram destinados, no início, a serem percorridos a pé, ou ainda, mais verdadeiramente, de joelhos.
Esses dois labirintos ficavam a pouca distância de Pontigny, uma das quatro abadias mães da estrutura cisterciense juntamente com La Ferté, Morimond e Claraval. Passa-se então a supor que os labirintos talvez fizessem parte da arquitetura cisterciense, o que poderia distanciar-se da arquitetura gótica. Após a morte de São Bernardo de Claraval, em 1153, sua influência diminuiu, de modo que Pontigny poderia ter mais destaque na ordem cisterciense. Pode-se lembrar que o papa Alexandre III se refugiou em Sens, substituido em Roma por um antipapa imposto pelo Imperador Frederico Barbaroxa. Em Pontigny asilou-se Thomas Becket, arcebispo de Canterbury, por ter sido obrigado a deixar a Inglaterra de Henrique Plantageneta, com seu secretário John de Salisbury, futuro bispo de Chartres, onde viria a ser construído o terceiro labirinto. Sabemos que São Thomas Becket foi assassinado em 1170; Alexandre III se reintegrou ao Vaticano em 1171 e viria a morrer em Civita Castellana em 1181. John de Salisboury foi nomeado ao episcopado de Chartres em 1176 e morreria em 1180.
É impossível ter-se a configuração exata desse dois labirintos. Desse modo, conta-se com pelo menos três variantes de possibilidades desses desenhos. Há a variante de Villard de Honnecourt, que o arquiteto do século XIII traçou sobre seu famoso caderno. Admite-se que seu desenho se pareça com uma imagem em espelho do labirinto de Chartres. Possuímos igualmente o desenho pesquisado por Emile Amé, que difere dos precedentes sobre alguns pontos importantes, e, finalmente, temos o traçado proposto pelo padre A. R. Verbrugge, que difere apenas em proporções do de Emile Amé. Mas lembremos que desses três estudiosos somente Villard de Honnecourt visitou o monumento. 

Fonte bibliográfica: 
Ketley-Laporte, John et Odette - Chartres, le labyrinthe déchiffré. Éditons Jean-Michel Garnier, 1997.