quarta-feira, 16 de março de 2011

Linguagem do Labirinto - Parte 3

Os labirintos, de modo geral, podem provocar certo impacto já logo de um olhar inicial, por sua forma intrincada, ao mesmo tempo harmônica e confusa, tal qual as imagens do artista plástico Escher, com figuras aparentemente impossíveis em um mundo tridimensional. Nos labirintos baseados naquele de Chartres, o trajeto, o caminho, o atalho de ida é o mesmo da volta. No entanto, para aquele que caminha existe a impressão de ter ido por um caminho e ter voltado por outro. Também pode haver a impressão de se ter entrado por uma passagem e de se ter saído por outra. Esse é um dos efeitos decorrentes do engenhoso desenho do labirinto.
Esse desenho é em parte baseado no que é chamado de "geometria sagrada". Essa geometria, se sagrada, remete à possibilidade de "transcender" seus próprios traçados e apontar para significados que estejam além da realidade imediatamente captada pelos sentidos. Trata-se de uma geometria que se insere dentro do contexto do "religar" das crenças e religiões, ou seja "reatar" o indivíduo com o Todo, ou com a Divindade.
Não é raro que diante desta afirmação, pessoas agnósticas ou descrentes se coloquem a certa distância de tal conceituação e passem a renegar o labirinto e suas possibilidades. Ocorre que o labirinto, embora construido dentro dessa geometria sagrada, pode ser usado por qualquer pessoa de qualquer religião, ou mesmo sem religião. Esse "transcender" da imagem labiríntica pode servir também ao indivíduo descrente, na medida em que aponte para um "religar" da pessoa com sua comunidade, com sua família, com a natureza, etc., sem necessariamente implicar em uma crença mais estruturada sobre alicerces de espiritualidade e religiosidade.
Assim, a linguagem do labirinto pode ser acessível a qualquer pessoa, sempre situando-se dentro da "leitura" que essa pessoa faça do labirinto. Desse modo, pode-se dizer que o labirinto fala qualquer língua, ou todas as línguas. O labirinto também é um símbolo da Torre de Babel, de onde surgiram todas as línguas. Ocorre que nessa Torre as línguas surgiram a partir de uma separação egoista dos seres humanos em busca apenas de atingir o topo do mundo, esquecendo de seu semelhante. Nessa linha, o Labirinto é uma espécie de "Torre de Babel ao contrário", ou seja algo que conduza a um entendimento e a um encontro dos seres humanos. Essa é uma linguagem da geometria sagrada que pode servir a qualquer pessoa, doentes e não doentes, crentes e não crentes.

Nenhum comentário:

Postar um comentário