domingo, 30 de outubro de 2011

O Labirinto e os Sonhos

Nas mais diversas tradições culturais os sonhos guardam vários significados e interpretações. Na tradição ocidental as narrativas do Antigo Testamento são exemplos da antiguidade de funções que os sonhos desempenham no entendimento que os seres humanos tiveram e têm de si e do mundo. 
Na transição entre o século XIX e o século XX, Freud reavivou e acentuou a importância dos sonhos a partir de um contexto e um entendimento apropriado à modernidade e ao ambiente científico da época. Alguns anos depois, Jung enriqueceu esse estudo psicológico dos sonhos, inserindo aspectos arquetípicos e culturais.
Tanto sob o ponto de vista de antigas narrativas, quanto dos estudos psicológicos atuais, os sonhos mantêm sua importância, incluindo transversalidades com fatores antropológicos.
Paul de Saint-Hilaire, autor da obra "L'Univers secret du labyrinthe" (Éditions Robert Laffont, 1992), inicia sua obra sobre os labirintos relatando ter ficado bastante intrigado com o fato de sonhar noites e noites que estava em estruturas labirínticas. Explicações variadas pareceram-lhe pouco satisfatórias e ele constatou que diversas outras pessoas tinham sonhos semelhantes que ele considerou como expressões da própria vida de cada um. Ao invés de atenuar sua angústia por meios "químicos", ele acabou por considerar que tais sonhos eram algo premonitórios de contatos que ele viria a ter com labirintos ao fazer estudos sobre outros assuntos. Isso instigou-lhe o interesse para fazer um estudo sobre os labirintos.

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

A Linguagem do Gótico e o Labirinto

O período Gótico corresponde a uma cultura bastante peculiar, que situou-se em um intervalo de tempo entre o século XII e o século XVI, se quiser-se considerar o assim chamado Gótico tardio. Essa situação é também intermediária entre diferentes culturas europeias, ou seja, após e concomitantemente à Arte Românica e antes do Renascimento. A origem do termo "gótico" é discutível entre os estudiosos. Há os que consideram essa palavra simplesmente como derivada do termo "godo", referente aos povos bárbaros como os ostrogodos e os visigodos. Há outros como Fulcanelli que considera "gótico" como uma variante da palavra francesa "argot", que corresponde a "gíria", ou seja, a uma espécie de "linguagem não oficial". Assim, a linguagem artística do Gótico aparece como algo que não se enquadra na linguagem artística românica e nem na renascentista. O universo do Gótico apresenta tantos aspectos próprios que sua configuração, sua estrutura não foi entendida pelos homens do Renascimento. De certa forma, pode-se mesmo dizer que houve uma "perda de memória histórica" do Gótico pela cultura europeia. Suas construções e outras formas de arte passaram a ser vistas como obras estranhas e sem estética. 
A figura do Labirinto enquadra-se nesse contexto Gótico. O Labirinto, com seu sentido de "caminho intrincado", "caminho imprevisível", ou "indecifrável", pode ser visto até mesmo como um simbolo do desentendimento das gerações posteriores ao período Gótico. Percorrer o Labirinto era também como percorrer os meandros da Cultura Gótica. O Labirinto visto como uma cifra, um ideograma, pode ser entendido como um símbolo do entendimento de vida e de mundo por parte das pessoas que viviam em torno dessa Cultura. Mesmo esta referência, ou seja, Cultura Gótica, parece um pouco desencontrada do periodo medieval correspondente, pois principalmente teria mais fortemente se expressado em uma "linguagem de pedra", ou ainda "de pedra e vidro", em suas construções, esculturas e vitrais. Todas estas obras, na verdade, constituem um outro labirinto a ser percorrido e decifrado por quem quiser tentar entender um pouco desse mundo algo esquecido do ocidente.   

terça-feira, 11 de outubro de 2011

Disposição cósmica dos labirintos medievais


Estas duas figuras do livro "L'univers secret du labyrinthe" do autor Paul de Saint-Hilaire, apresentam a disposição dos labirintos medievais, de modo que esse autor considera haver uma imagem especular similar à posição das estrelas que formam a constelação antigamente chamada de "Teseu" e que depois passou a ser conhecida como constelação de Hércules, conforme pode ser verificado.
Teseu era o herói que na mitologia grega venceu o Minotauro no Labirinto de Creta.
O autor considera que isso talvez possa ser mais do que uma coincidência. De qualquer forma, trata-se de um dado formidável, considerando-se a grande distância entre essas localidades portadoras de imagens de labirinto.
Esse é um entre vários mistérios intrigantes relacionados com os labirintos medievais.

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

O Labirinto e a Arte Gótica - Parte 3

Os labirintos das catedrais góticas têm em comum com esse padrão artístico algumas características matemáticas que seguem o conhecimento matemático pitagórico legado nos estudos do Quadrivium: Aritmética, Geometria, Música, Astronomia. Juntamente com o Quadrivium (Gramática, Retórica, Dialética) formavam as assim chamadas Artes Liberais. Conforme o simbolismo de então, podemos observar que o número 3, símbolo do espírito, ou da espiritualidade ou do mundo espiritual, corresponde a três disciplinas teóricas, abstratas. Já o Quadrivium, com seu número 4, equivale ao símbolo da materialidade, com as disciplinas que servem ao estudo do mundo concreto. 
Esse simbolismo e outros encontram-se presentes também nos labirintos das catedrais góticas.
Parte desse conhecimento é anterior à Idade Média. Mas, na Idade Média, e particularmente na Arte Gótica, a aplicação desses conhecimentos chegaram a uma elaboração inusitada produtora das notáveis construções e de outras obras góticas. Todas essas obras e assim também os labirintos encerram um tipo de conhecimento e de sabedoria sobre o ser humano, sobre a natureza e sobre o cosmo que, de certa forma perdeu-se depois.
Para entender-se melhor essa afirmação é necessário que se saiba a respeito dos novos estudos que cada vez mais têm jogado luz sobre a Idade Média e têm desmentido a noção fantasiosa de que a Idade Média era uma Idade das Trevas em que existia apenas ignorância. 
Essa noção sobre a Idade Média foi construida em parte pelos renascentistas, mas mais ainda pelos iluministas e pós-iluministas. Assim, ficou-se com, por exemplo, o uso da palavra "medieval" como um adjetivo pejorativo e ofensivo que possa ser usado para apontar algum aspecto negativo de alguém ou de alguma coisa.
Cada vez mais, sabe-se que a Idade Média teve diversos fatores interessantes no que diz respeito ao conhecimento.
Entre as histórias inventadas encontra-se a de que os estudiosos da Idade Média pensavam que a Terra era plana. Assim, também atira-se para a Idade Média males que foram predominantes na assim chamada Idade Moderna. Na Idade Moderna a escravidão foi difundida e assumida no mundo ocidental. na Idade Moderna a Inquisição foi pior do que na Idade Média. Logo após o início da Revolução Industrial a vida social e cultural dos trabalhadores era pior do que durante a Idade Média, principalmente se considerarmos a Baixa Idade Média. 
É difícil acreditarmos nessas afirmações porque já estão entranhadas em nossas mentes apenas ideias negativas sobre a Idade Media.
Assim, quando entrou o período chamado depois de Renascimento, os homens de conhecimento perderam a percepção que antes era propiciada pela Arte Gótica. Passaram a ridicularizar as desproporções e a falta de perspectiva nas pinturas medievais, sem saber da dimensão simbólica dessas representações. Assim também em relação à arquitetura e escultura, e também a literatura, pois têm sido descobertos interessantes textos medievais tanto literários como científicos.
O labirinto está inserido nesse conhecimento de certo modo parcialmente "perdido", em virtude do olhar preconcebido com que por vários séculos tem-se olhado para a Arte Gótica.