sexta-feira, 29 de julho de 2011

Interreligiosidade e o Labirinto

Nesta pintura do anônimo Mestre de Campana Cassoni, do século XVI, sobre a jornada de Teseu a Creta, podemos observar a imagem de um labirinto, do lado direito, com trajeto similar ao trajeto do Labirinto de Chartres. No centro da pintura há a representação de Teseu matando o Minotauro. 
No Centro do Labirinto de Chartres, havia também, até fins do século XVIII, uma placa circular de metal com a imagem de Teseu matando o Minotauro. Em um primeiro momento, essa informação desperta certa perplexidade a respeito da presença de uma figura da Mitologia Grega em uma igreja católica. Mas, isso pode ser melhor entendido se for visto a partir da incorporação do simbolismo dessa superação do Minotauro. Esse simbolismo pode ser entendido de várias formas. Uma delas pode ser a superação do ser humano de um estado mais instintivo, selvagem, por um lado mais humano, ou mais racional, dentro de um espírito grego. 
Também podemos lembrar que essa imagem de Teseu matando o Minotauro encontra-se exatamente no local que corresponde à entrada da antiga igreja. Assim, está no limite entre o sagrado e o não-sagrado.
O próprio labirinto se dispõe em posição tal que fica com metade fora desse espaço sagrado e metade dentro. 
Assim, o Labirinto delimita um espaço que contém símbolos cósmicos, mitológicos e cristãos. Esse espaço pode ser percorrido por qualquer pessoa, independente de sua crença. Esse é um espaço intermediário entre o mundo de fora e o mundo de dentro da igreja, onde diferentes culturas, linguagens, entendimentos, podem se encontrar. É portanto um espaço de promoção de paz, onde cada um pode levar consigo sua própria vivência do Caminho de Jerusalém, ou do Caminho de Creta. 
  

quinta-feira, 14 de julho de 2011

Vitrais de Chartres e o Labirinto - Parte 3


Continuando os comentários sobre os vitrais que ficam entre a Rosácea Oeste e o Labirinto de Chartres, observamos a janela central, entre as três janelas que ficam abaixo da Rosácea. Essa janela corresponde á Infância de Jesus. É formada por 3 colunas de nove imagens que fazem uma narrativa sequenciada de 3 em 3 imagens de baixo para cima, formando assim um total de 27 imagens. A imagem mais acima corresponde à Virgem e o Menino Jesus que nas já citadas datas de agosto (20 a 22) projetam-se no centro do Labirinto.
No alto, ao lado dessa imagem, há 2 outras imagens, do sol e da lua, uma de cada lado. Isso perfaz um total de 29 imagens, que também é um número próximo do mês lunar, já que meses lunares que duram 29 dias, além do número 28 que também pode ser considerado, se levar-se em conta sol e lua como subdivisões de um mesmo grupo de imagens. As imagens do sol e da lua inserem os acontecimentos narrados em um contexto cósmico no tempo e no universo. A sequencia narrativa das imagens, no labirinto, correspondem à jornada de Jesus e sua família, e também à jornada do caminhante no Labirinto, fazendo uma correlação entre jornada histórica, jornada de vida e jornada espiritual.

segunda-feira, 11 de julho de 2011

Vitrais de Chartres e o Labirinto - Parte 2


Na imagem do alto pode-se ver a imagem que fica na parte mais baixa do vitral que fica à direita de quem olha do lado de dentro da Catedral para a Fachada Oeste. Essa imagem corresponde à árvore de Jessé representando Jessé dormindo, enquanto uma árvore sobe de seu corpo, vendo-se primeiramente seu filho Davi. Depois, na imagem maior, estão, sucessivamente, indo para cima, o rei Salomão, seu filho Roboão,  depois o filho deste Abias, depois Maria e Jesus. Jesus está cercado por sete pombos que correspondem aos sete dons do Espírito Santo. Em torno dessa imagem vertical central estão dispostos 14 profetas do Antigo Testamento, dos dois lados.
Esse vitral procura acentuar a descendência hebraica e real de Jesus. Apresentando os Profetas, insere todo o quadro no contexto das profecias do Antigo Testamento. A árvore é um símbolo forte nas religiões em geral. No Paraíso havia a árvore da Ciência do Bem e do Mal e a Árvore da Vida. O fruto da primeira teria levado à queda; da segunda árvore, conforme algumas tradições, teria vindo a madeira da Cruz. Duas árvores diferentes, como as duas torres diferentes de Chartres.
Entre os dois momentos das árvores do Paraíso e da Cruz há a Árvore de Jessé, que corresponde à descendência carnal de Jesus. 
O próprio Jesus usou a árvore em suas pregações em vários sentidos, por exemplo quando se refere à árvore que dá bons frutos.
Esse vitral trabalha com o número 7, um número sagrado em termos de contagem de tempo hebraico, com a duração da semana; multiplicado por 3 dá as 21 imagens. Somam-se a esse número 21 os 7 pombos dos dons do Espírito Santo e chega-se ao número 28 correspondente ao mês lunar hebraico.
No Labirinto há os símbolos lunares e a presença de 28 voltas de 180 graus, coadunando-se com essa simbologia do feminino e do tempo hebraico.
O Labirinto como imagem cósmica de totalidade engloba também a tradição hebraica em seu papel de Caminho para a Espiritualidade.
Os vitrais desse espaço fazem parte desse triângulo cujos lados são: a fachada oeste, o chão até o labirinto, o limite superior da Rosácea Oeste e o limite leste do Labirinto.

domingo, 10 de julho de 2011

Vitrais de Chartres e o Labirinto

A disposição do Labirinto na Catedral de Chartres tem relação com a fachada Oeste da construção conforme temos citado. Essa fachada oeste foi construida em meados do século XII e é uma parte remanescente da igreja que sofreu um incêndio em 1194. Alguns estudiosos acham que o restante da catedral atual, que foi construída após essa data, poderia ter sido elaborado a partir dessa fachada e do labirinto que fica em ângulo reto com a rosácea acima dos três vitrais que são vistos acima. 
Esses três vitrais dizem respeito, respectivamente, o da direita à "Árvore de Jessé" com a Genealogia de Jesus e com Profetas. O do centro corresponde à "Infância de Jesus", sendo que sua imagem mais alta e central projeta-se no centro do labirinto em 22 de agosto (15 de agosto antes do calendário gregoriano), dia da Assunção como já foi dito. Pode-se acrescentar que essa projeção inicia-se no dia equivalente a 20 (ou 13) que corresponde ao chamado dia da "Dormição", ou morte de Maria.
O vitral da esquerda diz respeito a "Transfiguração, Paixão e Ressurreição de Jesus".
Assim, esses vitrais que ficam em uma localização intermediária entre a Rosácea Oeste e o Labirinto, fazem parte de um conjunto que busca uma mensagem em conjunto, que diz respeito a uma narrativa referente a Jesus e Maria, no contexto cósmico da Catedral.

quinta-feira, 7 de julho de 2011

Símbolos Numéricos no Labirinto de Chartres

O Labirinto da Catedral de Chartres apresenta representações numéricas simbólicas do entendimento cósmico do tempo e do espaço, de dimensões materiais e espirituais. Esses números acompanham simbologia solar e lunar, que equivalem também a símbolos masculinos e femininos. Respectivamente também apresentam correspondência espiritual com a dimensão feminina Mediadora de Maria e com o aspecto masculino em Cristo Salvador. Tradicionalmente Cristo é simbolizado pelo Sol nascente, que estava presente no momento da Ressurreição. Também o Natal é uma celebração que foi determinada no dia equivalente ao sol invictus, ou seja o sol invencível entre os romanos, por corresponder ao início do aumento da duração do dia em relação à noite, depois de passarem os primeiros dias do inverno, com as noites mais longas. Mais uma associação corresponde ao próprio dia de Domingo (dia do Senhor - Dominus), antes chamado de dia do Sol (ainda mantém essa designação em várias línguas).
O símbolo lunar feminino está presente em várias tradições, podendo estar ligado aos ciclos fisiológicos femininos. Na tradição greco-romana a lua está associada à deusa Artemis-Diana.
O período de 24 horas, na tradição judaica se inicia ao anoitecer, de modo que "o dia foi gestado na noite". Sob certo aspecto o sol foi gestado na noite que é o período da lua. No entanto, na mitologia greco-romana lua e sol são irmãos; mas, nessa mesma tradição, a Noite é uma das mais primevas entidades mitológicas.
No entorno do Labirinto de Chartres há 114 "lunações", ou seja, 114 círculos incompletos que lembram a lua. Essas lunações são equivalentes a 4 meses lunares. O 4 em volta do círculo, que é um símbolo solar, lembra a busca feita pelos antigos de encontrar a "quadratura do círculo", que simbolicamente significava encontrar correlações geometricamente perfeitas, algo similar à busca da pedra filosofal pelos alquimistas. Também o número114 corresponde a 6 vezes 19. 19 anos, em antigas tradições, representava um "ciclo completo" de equivalência entre períodos lunares e solares concomitantemente, ou seja, de 19 em 19 anos solares, os ciclos lunares se repetem. Portanto, esse é um número que significa uma harmonia entre sol e lua. 6 vezes esses ciclos pode simbolizar um Ciclo Cósmico, já que em 6 dias foi feito o mundo, conforme o Gênesis.   

terça-feira, 5 de julho de 2011

O Som do Labirinto de Chartres

As atividades do ser humano costumam ser pontilhadas por algum som. Mesmo o "silêncio percebido" também é um tipo de som, às vezes como uma "quase ausência de som". Devemos lembrar que as pessoas que não têm o sentido da audição têm uma capacidade maior de percepção de vibrações, que também é um tipo de "som", percebido pelo tato e pelo corpo. A linguagem e suas diversas formas, a verbalidade, a fala acompanham o ser humano desde seu início na pré-história, já que "ser humano, cultura e linguagem" surgiram concomitantemente.
Assim, se tudo que é humano tem um som, tem uma vibração como energia mecânica sonora, o Labirinto de Chartres também pode ter sua correlação sonora, sua vibração musical.
A Catedral de Chartres tem como uma das influências em sua construção o conhecimento numérico pitagórico e, assim, também o conhecimento musical pitagórico. Desse modo, há representações de intervalos musicais pitagóricos em sua constituição. 
O Labirinto, tendo suas correlações com a obra da Catedral, também se harmoniza com as medidas que estão a seu redor.
A caminhada no Labirinto pode ser preenchida pelo silêncio da Catedral, que é um silêncio pleno de luz dos vitrais e da disposição das colunas e das ogivas góticas nessa disposição pitagórica.
Além disso, o som do Labirinto também pode ser feito pela música que era própria do período em que foi construído.
O som das Catedrais Góticas era equivalente ao som dos Cantos Gregorianos. 
Como as Catedrais Góticas, os Cantos Gregorianos eram produtos de autores anônimos. Eles têm o nome de Gregorianos porque foram inicialmente catalogados pelo papa Gregório Magno entre os séculos VI e VII. Gregório era beneditino, tendo assim aprendido a cultivar os cantos que depois levaram seu nome.
O Canto Gregoriano tem origem incerta, sendo provável que tenha sido formado por influências hebraicas, gregas e romanas. Sua origem é remota como a origem do Labirinto.
O Canto Gregoriano é "meditativo" como o Labirinto, pois contém a noção de unidade na voz, embora sejam diversas as pessoas. Assim, o Labirinto, com tantas voltas incertas, forma também uma unidade. 
O Labirinto vivenciado como Caminho de Jerusalém por seus criadores era próprio dessa condição de unidade espiritual do Gótico.
A Meditação Caminhando no Labirinto pode resgatar um pouco desse espírito de unidade tão longínquo no tempo.

sexta-feira, 1 de julho de 2011

O que acontece no Labirinto

É comum ser feita a pergunta, por quem ainda não tenha andado no Labirinto, e mesmo por quem já andou, a respeito do que acontece ao se participar da atividade da Meditação Caminhando no Labirinto. Uma forma de responder a essa questão é dizer que a resposta pode ser "inteligível ou imprevisível". Ao dizermos que a resposta é "inteligível", significamos que pode-se entender as narrativas sobre a sensação de calma, de paz, de relaxamento, ao ser percorrido o trajeto do Labirinto, já que trata-se de atividade que   trabalha com essas propostas. Ao se dizer que pode ser "imprevisível", está sendo indicado que há aspectos que são bastante inerentes à individualidade de cada pessoa, de modo que existe uma variabilidade de experiências tão grande quanto o número de pessoas que existem no mundo.
Ao acompanharmos as pessoas que têm feito esse percurso no transcorrer dos últimos dez anos, sempre temos nos surpreendido com a experiência e o sentido do Labirinto para cada um. 
Há pessoas que em sua primeira caminhada já vivenciam uma série de coisas, as quais nem sempre são verbalizadas, e não é necessário que sejam. Para outros trata-se de um processo gradual de acordo com o  transcorrer de várias atividades. 
A forma de como cada indivíduo expressa essa vivência e como multiplica esse resultado em sua vida também é variável. 
De modo geral, a Meditação Caminhando no Labirinto tem um caráter de "corte na rotina", "pausa no tempo", "nova vivência do espaço" e outras formas de indicar uma percepção diferente daquilo que habitualmente se tem com o uso "racional" que se faz da mente, e também diferente do que se supõe antes de iniciar a atividade. 
É surpreendente que algo tão antigo e aparentemente simples seja capaz de desencadear tão variadas possibilidades de vivência. O mistério das origens dessa imagem, até que ponto estaria realmente ligada a alguma forma de conhecimento esquecido à qual os Templários teriam tido acesso, são questões que permanecem indagadas, em parte porque procuramos essas respostas também de forma racional e esquecemos de tentar entendê-las de maneira artística ou poética, no sentido que essas palavras têm também como formas de entendimento e sabedoria.