segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Meditar com o Corpo no Labirinto - Parte 3

Uma das impressões espaciais relativas à situação do corpo em relação ao labirinto é a de que inicialmente parecer que logo vai se chegar ao centro, e depois, quando parece estar longe, subitamente aproxima-se o centro. Esse é um tipo de ilusão que, em um primeiro momento, pode parecer estar ligado apenas ao olhar. Certamente o olhar tem participação nesse processo. No entanto, olhar e movimento estão conjugados. A percepção de posição do corpo no espaço dá-se pelo olhar, mas também tem a importante participação do sistema vestibular, que informa o sistema nervoso a partir de estímulos associados à percepção da gravidade. Assim que, nas situações em que alguém sofre de cinetose, mais facilmente será "enganado" pelo sistema vestibular em certas situações de movimento do corpo, principalmente movimentos súbitos, circulares, ou repetidos. A caminhada no labirinto é suave, de modo que é menos provável ocorrer um sintoma de cinetose. Por outro lado, olhar e movimento associados em relação à disposição do corpo entre o início e o centro do labirinto podem determinar adaptações da noção de equilíbrio do corpo. A chegada ao centro do labirinto, ao mesmo tempo em que traz um descanso ao caminhante, dispõe o corpo em uma situação apropriada à essa etapa de "meditação sem movimento". No centro do labirinto, as pessoas que são habituadas a meditar na posição de lótus podem fazer uso dessa prática. Além disso, pode-se também sentar como se quiser, ou até mesmo ficar em pé. Intuitivamente, cada um deve seguir seu pendor no momento de entrar na rosa central. Há pessoas que em um dia preferem ficar sentadas e em outro ficam em pé. A Meditação Caminhando no Labirinto permite que o corpo possa ter uma maleabilidade que acompanhe o estado de espírito do momento. Assim, corpo e mente podem se harmonizar de acordo com o clima intuitivo presente na chegada ao centro. 

quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Meditar com o Corpo no Labirinto - Parte 2

Ao pensar-se em meditação, imediatamente faz-se uma associação com a mente.
Além de pouco se lembrar do corpo, supõe-se ate mesmo tentar atingir um "distanciamento" do corpo, na medida em que se consiga aprofundar a meditação.
No caso da caminhada no Labirinto há um processo diferente desse citado. Embora a meditação ocorra na mente, o corpo é uma ferramenta importante para adentrar e permanecer no ato de meditar. 
Na medida em que o corpo se desloca, há uma mobilização da mente seguindo esse corpo. Pode-se até mesmo fazer uma alegação neurocientífica, dizendo-se que há uma estimulação "proprioceptiva" (ou seja, uma estimulação que segue a sensibilidade profunda do corpo), de modo que há uma certa "moldagem" do indivíduo. 
O corpo, estando envolvido com a atividade de caminhada no desenho do labirinto, faz "descobertas" sobre o indivíduo. O deslocamento com surpresas sucessivas, acaba levando a uma redução na "expectativa" do caminhante em relação aos próximos passos e permite que se deixe do hábito de sempre querer "antecipar e planejar". Evidentemente planejar é importante em várias situações na vida. Mas o ser humano sente também a necessidade de deixar seu ser à deriva na captação de energias e renovações de disposição que permitam um novo olhar sobre si, sobre os outros, e sobre o universo. 
Esse corpo deixa-se conduzir pela geometria sagrada presente na estrutura do labirinto. Essa geometria, cheia de símbolos, pretende "dialogar" com esse corpo, de modo que possa efetuar a transição do símbolo sagrado e do corpo para permitir uma meditação que inclua o corpo em movimento. 

quarta-feira, 10 de agosto de 2011

Meditar com o Corpo no Labirinto

A Meditação Caminhando no Labirinto tem uma característica bastante própria que é "o movimento", "o deslocamento do corpo", o corpo como "território da meditação", ou seja, constitui uma forma de adentrar à mente através do corpo. 
Esse processo que se dá no corpo, condiciona-se ao trajeto no labirinto, ao desenho do labirinto, aos símbolos presentes no labirinto. Assim, em um primeiro momento o corpo "adentra ao espaço simbólico" que delimita um campo no qual inicia-se a atividade de interiorizar-se, de meditar. Mas essa atividade parte de um "focar no corpo". O foco de atenção no corpo conduz a determinados padrões de movimento. Tais movimentos ocorrem na busca de deslocar-se pé ante pé em um trajeto em grande parte das vezes curvo. Assim, os pés são a ferramenta da Meditação Caminhando. Devemos lembrar que essa atividade pode também ser feita por cadeirantes e também devemos recordar que na Catedral de Chartres, há séculos, o Labirinto era percorrido também de joelhos.
Voltando para os pés, determinados tipos de massagem são feitos nos pés, baseando-se em uma noção de que todas as partes do corpo têm sua representação nos pés. Para raciocinar de maneira simples a esse respeito, basta notarmos que todo o peso do corpo é carregado sobre os pés, que podem, dessa forma, espelhar certas condições que se sobrepõem aos mesmos. 
Na caminhada no Labirinto os pés são mais valorizados, mais focalizados, do que em uma caminhada comum. Forçosamente, mas de modo suavizado pela música, há que se concentrar nos pés. 
Etapas que são cruciais na caminhada são as curvas de 180 graus. Necessariamente os pés devem inverter o sentido que seguiam e, assim, também todo o corpo. A maneira de conduzir os pés e o corpo nessas dobras pode retratar a forma como administramos as mudanças na vida, ou as situações em que precisamos de uma guinada de 180 graus. Nem sempre damos a atenção devida a essas curvas. Por vezes "pulamos" essa parte ou tentamos fazer com que ela não seja uma curva.
Posteriormente continuaremos com esse tema.

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Vitrais de Chartres e o Labirinto - Parte 4

Continuando a reflexão sobre os vitrais localizados entre o Labirinto de Chartres e a Rosácea Oeste da Catedral, vamos nos deter no vitral que fica do lado esquerdo em relação a quem observa as janelas do lado oeste, de dentro para fora. Esse vitral diz respeito a "Transfiguração, Paixão e Ressurreição de Jesus". Compõe-se de 14 cenas, dispostas em duas colunas de 7 cenas, ou ainda subdivididas em 2 cenas para a Transfiguração, 8 cenas para a Paixão e 4 cenas para a Ressurreição. 
Aqueles que construiram a Catedral de Chartres tinham os conhecimentos próprios da época. Nesse local havia uma antiga Escola, uma espécie de "universidade", onde, entre as assim chamadas Artes Liberais, ensinavam-se Aritmética, Geometria, Astronomia, ciências essas que correlacionavam noções numéricas com noções cósmicas, bem como com noções de espaço e tempo. 
Assim, a expressão religiosa presente no trabalho artístico da catedral era veiculada através dos conhecimentos anteriormente citados.
O número 14 pode ser lido como duas vezes 7. O número 7, sendo 4 mais 3, ou seja, matéria somada a espírito, pode ser uma expressão do ser humano nessas "duas partes", inteiro, mas ainda "não completo"  como no número 8. O número 14 pode se referir ao dia 14 de Nisan, que corresponde à Pascoa hebraica comemorada na primeira noite da primeira lua cheia da primavera do hemisfério norte. O número 14 também corresponde às 14 estações da Via Sacra, que eventualmente é acrescida com uma estação de número 15 correspondente à Ressurreição. 
Nesse vitral há uma correlação entre os três citados momentos da Vida de Jesus. Essa correlação, ao mesmo tempo em que apresenta uma certa "completude" no que diz respeito à missão do Messias, também pode apontar que alguma coisa ainda falta a ser completada. O dia 14 diz respeito a uma "passagem", a Páscoa, mas também corresponde a uma mês incompleto, corresponde a duas vezes o 7, que superado fecha-se em círculo no 8. 
Essa não completude pode estar correlacionada à noção teológica de que a Paixão de Cristo prolonga-se na História até o fim dos tempos, ou ainda que os 3 eventos relatados no vitral precisam ser vivenciados novamente por cada pessoa.    
Todo esse processo pode correlacionar-se com a caminhada simbólica no Labirinto, onde cada caminhante pode exercitar-se espiritualmente em sintonia com essas etapas.
De qualquer forma os três vitrais fazem parte do espaço que fica entre a Rosácea Oeste e o Labirinto no solo. Em certo sentido esse espaço corresponde a um setor intermediário entre o sagrado e o não sagrado. Ao mesmo tempo ele se inunda da luz provinda da Rosácea Oeste e dos 3 vitrais abaixo dela. 
A soma de todos esses elementos podem simbolizar uma possibilidade do ser humano transpor-se além dos limites de sua materialidade.