sexta-feira, 30 de setembro de 2011

O Labirinto e a Arte Gótica - Parte 2

O estudioso francês conhecido pelo pseudônimo de Fulcanelli e tido como alquimista, comentou que o Periodo Gótico teria sido um período rico em conhecimentos e habilidades técnicas que permitiram a elaboração e construção das catedrais e seus detalhes, como os vidros componentes dos vitrais e suas cores peculiares.
Mesmo que não queiramos acreditar nas elocubrações alquímicas citadas por Fulcanelli a respeito das construções góticas, há um aspecto que ele observa e que pode ser também constatado por nós. Ele se refere ao aspecto das estátuas góticas, principalmente "a face". Ele repara e assinala o sorriso presente em tais esculturas. Nota que, se a Idade Média tivesse sido terrível como foi pintada depois pelos iluministas, não seria essa a imagem transmitida por essas obras. Os leves traços dessas estátuas, acompanhando esse sorriso, talvez falem de uma época em que as pessoas estariam, na verdade, mais felizes do que supomos. Esse aspecto pode ser mais um fator revelador de uma situação de certo equilíbrio entre o lado luminoso e o lado sombrio do ser humano nos povoados próximos às catedrais. 
Assim, os labirintos presentes nas catedrais, podem ser vistos também como obras inseridas nesse contexto de "humor" ou de "emocionalidade" presente nessas comunidades. Supõe-se que os labirintos fossem meios de penitência e expiação de pecados, com pessoas fazendo seu trajeto ajoelhadas. Mas, talvez essa penitência devesse ser inserida em um contexto maior de "salvação", "ressurreição", "recomeçar", "renascer", "religar", já que esses templos, e também o labirinto eram dominados pela noção de Maria como Mediadora entre os homens e Deus. Assim, imagens associadas à Rosa, por exemplo, presentes nos labirintos e em outros lugares da catedral, referem-se a Maria Mediadora e Consoladora. 
Desse modo, o aspecto penitencial insere-se em um campo claro-escuro, na penúmbra da catedral, na luz dos vitrais; em um campo resolutivo de conflitos (sem necessariamente eliminá-los por completo) no nível espiritual.   

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

O Labirinto e a Arte Gótica

A Arte Gótica surgiu no século XII, na Europa, em meio à presença ainda da Arte Românica, mais antiga. Embora não haja uma delimitação exata no tempo entre uma e outra forma de arte (aliás, muitas transições em períodos artísticos são assim), a Arte Gótica tem certas características que impressionam por darem a impressão de que revelam uma consciência sobre o ser humano e sobre o mundo que apresentam singularidades que se diferenciam do período anterior e também da fase conhecida como Renascimento. Não se trata aqui de chamarmos o período Gótico de "pré-renascimento" e nem de "pequeno renascimento", como alguns supõem. Diz respeito antes a um reconhecimento de que o Gótico tem certos elementos tão próprios, que passaram até mesmo a serem incompreendidos pelos renascentistas e mesmo depois pelos iluministas.
Entre essas propriedades do Gótico, encontra-se um equilíbrio entre a luz e a sombra resultante de uma nova disposição de forças que sustentam as catedrais, de modo que abriu-se espaço aos vitrais que traduzem a luz solar em novas luzes, atenuadas entre o clarão do dia e o escuro interno da igreja.
Nos estudos de Carl Gustav Jung encontramos a conceituação do "arquétipo da sombra", correspondente a âmbito sombrio de cada ser humano, onde se situam as fraquezas, frustrações, dificuldades, erros, defeitos, imperfeições. A "Cultura Gótica" (se é que podemos chamar assim) encontrou uma forma de equilibrar luz e sombra e harmonizar o ser humano entre suas potencialidades e qualidades e sua própria sombra.
Nesse contexto insere-se o Labirinto das Catedrais, e mais destacadamente o da Catedral de Chartres como um elemento que permite vivenciar-se esse processo de equilíbrio entre luz e sombra por meio de seus símbolos e sua caminhada.    

sábado, 17 de setembro de 2011

Etapas da Meditação Caminhando no Labirinto - Parte 4

A etapa da Meditação no Labirinto correspondente ao "estar no centro" pode eventualmente compor-se de outras "subetapas", na medida em que o "despertar interior inicial" possa se desdobrar em outras percepções e vivências. Assim, alguns decidem mudar de pétala para pétala na Rosácea Central, seguindo motivações momentâneas que lhes estimulam a isso. Esse e outros movimentos no centro do Labirinto podem estar associados à uma percepção mais propriamente "espacial" da Rosácea Central, de modo que sente-se a necessidade de situar o corpo em diversas disposições em relação a esse espaço.
Antes de terminar essa etapa, a "decisão e o movimento" de que dirigem o corpo para a saída da Rosácea Central reveste-se de simbolismo no "retorno de forma decidida" de uma fonte de "energias, memórias, realinhamentos" que vão levar a um "recomeço" que se inicia ao sair da Rosácea Central.
Assim, têm-se a etapa seguinte que é uma espécie de "começo a partir do fim", ou um "renascimento", ou uma "restauração". A nova caminhada em direção à saída do Labirinto vem trazendo novas possibilidades antes não visualizadas: poder decidir, poder escolher, vislumbrar novas proporções entre problemas e prováveis soluções, poder encontrar as soluções, passar a ver os problemas em uma nova dimensão. Mesmo os problemas insolúveis podem passar a ser vistos em um outro nível de realidade, de modo que seu caráter fatalista pode adquirir uma nova disposição em relação à vida, permitindo a descoberta de outras formas de conviver com tais problemas.        

terça-feira, 13 de setembro de 2011

Etapas da Meditação Caminhando no Labirinto - Parte 3

Já mencionamos que uma primeira etapa da Meditação Caminhando no Labirinto corresponde ao relaxamento. A segunda etapa diz respeito a um estágio intermediário entre "corpo e mente". 
Alguém poderia argumentar que estamos propondo uma separação entre corpo e mente ao formularmos essa etapa. Na verdade o principal fator que conduz a esta  reflexão é o "foco de atenção" do caminhante e não implica necessariamente em uma separação entre corpo e mente.
Estamos falando aqui de vivência, de experiência. 
O ser humano tem a experiência de uma "vida interior", de uma "vida mental", de uma "vivência introspectiva" que nem sempre tem um equivalente "corporal". Todo ser humano que lê esta afirmação sabe bem do que se trata aqui. Por outro lado, a experiência "sentida na pele", "nos ossos", "visceral", tem também uma determinada peculiaridade que permite ao ser humano diferenciá-la da experiência introspectiva propriamente dita.
Evidentemente há correlações entre essas instâncias e esse é um assunto milenarmente explorado pela Filosofia. 
Tratamos aqui da vivência do dia a dia e de formas comuns do ser humano observar a si mesmo, embora nem sempre tenha uma atenção consciente muito acentuada sobre esses aspectos.
Assim, o Labirinto pode ser uma ferramenta para trazer determinados elementos para o "foco de atenção".
Desse modo, de um foco no relaxamento, pode-se passar ao foco no que chamamos de "estágio intermediário corpo-mente". 
Uma terceira etapa diria respeito a um foco centrado mais ainda no interior, frequentemente carregado pela "memória". 
Ao adentrar no centro do Labirinto e parar de caminhar, é comum a percepção de algum aspecto esquecido na memória, que costuma ser benéfico, ou mesmo percepções consideradas como sendo de natureza espiritual que são fruto de um "foco interiorizado". Algumas vezes esse "foco interiorizado" é visto pelo caminhante como uma descoberta. Outras vezes a atenção se volta para o "evento interior" em si, com detalhamentos explicativos racionais ou emocionais desse "evento".
Assim, a assim chamada "iluminação" que ocorre no interior da rosácea central diz respeito a a uma luz jogada em sombras interiores que podem energizar a pessoa.

sábado, 10 de setembro de 2011

Etapas da Meditação Caminhando no Labirinto - Parte 2

Quando dividimos alguma atividade em etapas, pensamos em querer entender essa atividade passo a passo, em qual medida se passa de uma etapa a outra. Ocorre que a Meditação Caminhando no Labirinto nem sempre precisa ser formada por uma sucessão rígida de etapas. Sempre existe a possibilidade da Caminhada adquirir características próprias e inesperadas inerentes a cada pessoa. 
No entanto, o ser humano tem a peculiaridade de subdividir os processos, eventos e coisas em frações de tempo e de espaço, para tornar "inteligivelmente racional" as percepções e vivências desses processos.
Assim, é comum as pessoas que nunca andaram no Labirinto perguntarem sobre "o que acontece lá" e, muitas vezes, mesmo após a explicação, ficam interrogações no ar. Desse modo, a subdivisão em etapas visa a uma descrição "racional" de alguma coisa que nem sempre é apenas racional.
Já falamos da etapa inicial da Caminhada que corresponde mais a uma forma de relaxamento, portanto sentido, de certa forma, mais no corpo do que na mente. Considerando-se assim, podemos dizer que uma segunda etapa, corresponde a uma espécie de "transição entre o corpo e a mente". Sabemos que estamos falando aqui de uma particularidade referente a esse tipo de meditação que talvez cause certa surpresa. Não dizemos aqui que necessariamente essa etapa seja uma exclusividade da Meditação Caminhando no Labirinto. Mas, trata-se de uma "instância" não habitualmente assinalada nos discursos sobre meditação e outras atividades similares.
Temos então uma etapa bastante peculiar, pois trata-se de um "território intermediário", portanto não tão fácil de dispor, já que habitualmente dividimos corpo de mente. No entanto, o próprio Labirinto é uma estrutura simbólica com características de um processo intermediário.
Assim na "transição corpo-mente", ao mesmo tempo em que os passos são conduzidos pelo desenho do Labirinto, a mente inicia um "deixar-se levar" pelo desenho e pelos passos. Mas ainda não se trata da fase em que ocorre uma imersão interior em que ouve-se muito mais sua própria mente do que qualquer outra coisa, ao mesmo tempo em que persiste a música sendo ouvida. 
    

terça-feira, 6 de setembro de 2011

Etapas da Meditação Caminhando no Labirinto

As diversas formas de meditação têm em comum a possibilidade de promover um grau variável de relaxamento, variabilidade essa muitas vezes dependente mais de certas condições individuais próprias de cada pessoa, do que necessariamente em relação às características do método de meditação.
Nos dias de hoje, em que neste momento do século XXI se fazem presentes muitas incertezas quanto ao presente e ao futuro, a capacidade de relaxamento das pessoas pode ser mais difícil, na vigência de preocupações, ao mesmo tempo em que se faz mais necessária.
O relaxamento é um primeiro passo para a meditação. Além do relaxamento, outros processos introspectivos também podem ocorrer.  
O relaxamento tem uma face exterior e uma face interior. Músculos, cérebro e mente trabalham juntos no relaxamento.
O labirinto pode ser um meio facilitador do relaxamento que permita a introspecção própria do estado meditativo, na medida em que condiciona movimentos sucessivos em uma caminhada simbólica.
Mesmo a pessoa que ache difícil meditar pode vir a beneficiar-se do relaxamento decorrente do exercício próprio de atravessar o percurso labiríntico.
O relaxamento, aliado ao deixar-se perceber dos símbolos e estímulos cognitivos ao redor, pode ser uma porta para a próxima etapa que implica em certo estado meditativo que implica em um vôo livre da memória que parece despertar sensações e marcas esquecidas, as quais adquirem um valor positivo no processo introspectivo. Em geral são "boas memórias" que foram esquecidas. São memórias que permitem à pessoa "se redescobrir" em aspectos de si mesmo que foram deixados para trás, na medida em que a vida tomou determinados rumos. 
Vemos aí dois elementos algo próprios da Meditação Caminhando no Labirinto: o relaxamento que acompanha o movimento; o despertar de memórias positivas de redescoberta.
Essa redescoberta em parte acompanha uma "descoberta" de um labirinto interior que, ao mesmo tempo em que tem características labirínticas, ou seja, pode implicar em certo temor, tem também características de "um novo caminho".
Há outras etapas a serem também comentadas oportunamente.  


sábado, 3 de setembro de 2011

Geometria Sagrada do Labirinto de Chartres

O diagrama acima corresponde a um estudo do arquiteto John James sobre correlações entre as medidas de componentes da Catedral de Chartres. No círculo inferior está assinalado o diâmetro do labirinto. Podemos observar que a medida desse diâmetro equivale ao lado de um triângulo equilátero demarcado acima.
Esse triângulo está inserido em um círculo. Por sua vez, o diâmetro deste círculo corresponde à metade da diagonal do cruzamento do transepto, ou seja, a diagonal de um quadrilátero localizado no centro da imagem em cruz formada pelo espaço correspondente à nave central, na vertical, e as extensões laterais para norte e sul correspondendo à dimensçao horizontal dessa imagem em cruz.
Alguns autores questionam a exatidão dessas medidas de John James. Mas, no contexto medieval, importam mais as proporções do que medidas exatas.
O simbolismo do círculo e do triângulo sinalizam então o Todo e a Trindade. Portanto remetem à dimensão espiritual da construção.
Pode-se perguntar se a medida da diagonal do transepto teria sido feita primeiro, ou se a medida do labirinto. De qualquer forma, denota correlação entre o labirinto e as estruturas da catedral.