quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Vitrais de Chartres e o Labirinto - Parte 4

Continuando a reflexão sobre os vitrais localizados entre o Labirinto de Chartres e a Rosácea Oeste da Catedral, vamos nos deter no vitral que fica do lado esquerdo em relação a quem observa as janelas do lado oeste, de dentro para fora. Esse vitral diz respeito a "Transfiguração, Paixão e Ressurreição de Jesus". Compõe-se de 14 cenas, dispostas em duas colunas de 7 cenas, ou ainda subdivididas em 2 cenas para a Transfiguração, 8 cenas para a Paixão e 4 cenas para a Ressurreição. 
Aqueles que construiram a Catedral de Chartres tinham os conhecimentos próprios da época. Nesse local havia uma antiga Escola, uma espécie de "universidade", onde, entre as assim chamadas Artes Liberais, ensinavam-se Aritmética, Geometria, Astronomia, ciências essas que correlacionavam noções numéricas com noções cósmicas, bem como com noções de espaço e tempo. 
Assim, a expressão religiosa presente no trabalho artístico da catedral era veiculada através dos conhecimentos anteriormente citados.
O número 14 pode ser lido como duas vezes 7. O número 7, sendo 4 mais 3, ou seja, matéria somada a espírito, pode ser uma expressão do ser humano nessas "duas partes", inteiro, mas ainda "não completo"  como no número 8. O número 14 pode se referir ao dia 14 de Nisan, que corresponde à Pascoa hebraica comemorada na primeira noite da primeira lua cheia da primavera do hemisfério norte. O número 14 também corresponde às 14 estações da Via Sacra, que eventualmente é acrescida com uma estação de número 15 correspondente à Ressurreição. 
Nesse vitral há uma correlação entre os três citados momentos da Vida de Jesus. Essa correlação, ao mesmo tempo em que apresenta uma certa "completude" no que diz respeito à missão do Messias, também pode apontar que alguma coisa ainda falta a ser completada. O dia 14 diz respeito a uma "passagem", a Páscoa, mas também corresponde a uma mês incompleto, corresponde a duas vezes o 7, que superado fecha-se em círculo no 8. 
Essa não completude pode estar correlacionada à noção teológica de que a Paixão de Cristo prolonga-se na História até o fim dos tempos, ou ainda que os 3 eventos relatados no vitral precisam ser vivenciados novamente por cada pessoa.    
Todo esse processo pode correlacionar-se com a caminhada simbólica no Labirinto, onde cada caminhante pode exercitar-se espiritualmente em sintonia com essas etapas.
De qualquer forma os três vitrais fazem parte do espaço que fica entre a Rosácea Oeste e o Labirinto no solo. Em certo sentido esse espaço corresponde a um setor intermediário entre o sagrado e o não sagrado. Ao mesmo tempo ele se inunda da luz provinda da Rosácea Oeste e dos 3 vitrais abaixo dela. 
A soma de todos esses elementos podem simbolizar uma possibilidade do ser humano transpor-se além dos limites de sua materialidade. 

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