terça-feira, 19 de abril de 2011

Construções Medievais

Hoje em dia procura-se cuidar, preservar e restaurar construções históricas dos mais variados períodos da História. Mas, não foi sempre assim. E mesmo ainda nos tempos atuais se vê grande abandono de antigos imóveis e ruínas no Brasil.
Tratando mais especificamente das construções medievais, há algumas peculiaridades ligadas ao binômio destruição/preservação. As obras medievais, principalmente as consideradas como góticas, a partir de uma determinada época, que podemos identificar como de transição entre a Idade Média e o Renascimento (a partir de certa altura do século XIV), vão, aos poucos, ganhando um estranhamento dos cidadãos ao seu redor, principalmente por parte dos artistas e pessoas de estudo. Embora algumas construções góticas ainda adentrem esse período em obras, já com algumas modificações, a visão renascentista da "perspectiva", da "correção anatômica" que bebe em fontes clássicas, tornam "ilegível" a arte gótica ao indivíduo do Renascimento. A objetividade da busca das "medidas corretas" e "proporções adequadas" fez com que se perdesse a percepção da "arte simbólica" do período gótico. Com esse estranhamento, o homem do período assim chamado Humanista passou a considerar a arte gótica como uma "arte feia", assimétrica, desporporcional, longe da beleza clássica. Com isso, houve um gradual esquecimento e abandono dessas obras.
No século XVIII, o espírito racionalista e prático adentrou também a maneira como os próprios religiosos viam seus templos. Desse modo, a certa altura desse período, em uma determinada igreja da França, como a porta principal atrapalhava a passagem de ornamentos e santos carregados em procissão, o sacerdote responsável pelo local mandou que fosse ampliada tal porta, quebrando, assim, uma obra com séculos de idade.
No século XIX, tal abandono começou a ser revertido com o movimento do Romantismo, que buscava as origens culturais europeias, tendo-se acentuado um respeito pelas obras medievais, a partir da constatação de sua própria situação de certa possibilidade de ruína, principalmente a partir de eventos como o incêndio da Catedral de Chartres de 1836. A partir daí diferentes indivíduos chamaram a atenção para essas construções, um deles o grande escritor Victor Hugo pelo lado da literatura, e o arquiteto Eugène Viollet-le-Duc, que, embora alvo de polêmica por causa de suas intervenções, iniciou um processo de estudos e restauração das obras medievais.
Talvez, se não fosse por esses e tantos outros que mudaram a visão da sociedade sobre as construções góticas, hoje haveria modernos edifícios e igrejas soterrando os labirintos, impedindo-nos de conhecer esses portais do simbolismo e do inconsciente.   

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