segunda-feira, 9 de maio de 2011

Música visual

O autor Louis Charpentier, no livro Les mystères de la cathédrale de Chartres, chama de "música visual" a "harmonia geométrica das proporções e formas monumentais" da Catedral de Chartres. Ele faz essa menção ao explicar uma das diferenças entre o "arco romano", com seu contorno de "semi-círculo", presente na arquitetura "românica" medieval, comparando-o ao dobrar-se do arco ogival que, assim, adquire uma qualidade "vibratória". Charpentier associa essa qualidade ao Canto Gregoriano, ao dizer que, em ambas as situações, os abades beneditinos "dobram sua ação terrestre". Continuando, cita que o arco ogival age sobre o ser humano através de suas linhas de forças, por uma ação física e fisiológica. Assim, a pessoa coloca-se na posição ereta, em pé, buscando elevar-se espiritualmente. O arco ogival constrói-se sobre uma estrela de cinco pontas, símbolo do ser humano. As pontas inferiores são os centros dos dois círculos que se encontram na ponta da ogiva correspondete à cabeça e tocam lateralmente as duas outras pontas superiores. Assim ocorre um desenvolvimento do ser humano integrado à harmonia geral da construção gótica e, assim, da Catedral de Chartres.
Multiplicando-se esse formato gótico por toda a obra, essa tensão harmônica despertada por toda a construção confere ao indivíduo em seu interior a percepção de proporções matemáticas similares àquelas presentes na música. O Labirinto da Catedral de Chartres faz parte desse todo, situado simetricamente na direção norte-sul e assimetricamente na direção leste-oeste, conduzindo ao caminhante que percorre seu trajeto através de uma "música geométrica", concomitantemente ou não a uma música audível, no sentido de elevar-se a uma condição de melhor entendimento de si mesmo e dos outros.
Os labirintos derivados do Labirinto de Chartres procuram reproduzir, através da manutenção de alguns de seus símbolos esse caráter de possibilidade de "transportar" o indivíduo através de uma caminho simbólico, uma peregrinação que também mobilize energias no vai e vem do corpo, que, assim, mimetiza a própria construção gótica que vibra em ressonância com as forças da natureza ao seu redor, remetendo-se ao transcendente.       

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